Instituto de Artes da UERJ

Mostra online de GraduaΓ§Γ£o do Bacharelado em Artes Visuais

PANDEMIA DOIS ANOS ΒΉ

 

[…]

 

Qualquer semelhanΓ§a com fatos reais pode nΓ£o ser mera coincidΓͺncia.

 

Caso nΓ£o desapareΓ§a os sintomas negativos como Γ³dio, desrealizaΓ§Γ£o, negacionismo e mitomania, por favor, repetir o jogo quantas vezes for necessΓ‘ria para que se tenha o efeito esperado. […]

 

O colonialismo e suas formas de opressΓ£o atravessam a existΓͺncia da populaΓ§Γ£o negra, deixando como legado a marginalizaΓ§Γ£o e a obliteraΓ§Γ£o … escrevivΓͺncias de mulheres negras sangram e denunciam o racismo estrutural, mas tambΓ©m fazem anΓΊncios que trazem Γ  tona o empoderamento e a representatividade em comunhΓ£o com outras mulheres – uma constelaΓ§Γ£o … uma constelaΓ§Γ£o de aΓ§Γ΅es. […]

 

A vida do migrante … sempre estarΓ‘ presa entre dois mundos, do ser e nΓ£o-ser, atado a duas culturas, ainda que dΓ­spares e contrΓ‘rias. FaΓ§o parte de uma grande famΓ­lia de migrantes, mas do migrar, tudo o que conheΓ§o sΓ£o as histΓ³rias … o ato da escrita acaba exercendo a funΓ§Γ£o de criar laΓ§os de identificaΓ§Γ΅es ao discutir sobre o local que parece nunca mudar … esse rio de palavras e de conversas. […]

 

Mais do que um espacΜ§o auto-contido, esse lugar interessa por ser uma fresta no concreto urbano. É nesse intervalo que cultivo, além de plantas, encontros, alimentos e modos de contar as suas histórias. Investigo assim, as possibilidades e limitacΜ§oΜƒes da própria linguagem … O manejo da terra requer presencΜ§a e atencΜ§aΜƒo, por vezes capturadas no devir-tempo da vida objetiva. Como a bifurcacΜ§aΜƒo entre Crono e Kairós, o deus do tempo linear e o deus do tempo oportuno … É quando a paisagem se institui como potencial crΓ­tico do estado real do mundo, num exercício de esperancΜ§a, responsabilidade e conservacΜ§aΜƒo … O sagrado em meio aΜ€s coisas ínfimas. Sigo escutando. […]

 

Γ‰ bem verdade que cada bater de coraΓ§Γ£o Γ© ΓΊnico, e Γ© bem verdade que as particularidades formais de cada coraΓ§Γ£o Γ© ΓΊnica, e Γ© bem verdade que Γ© muito belo que todos nΓ³s queremos e amamos de jeitos ΓΊnicos, mas todo coraΓ§Γ£o que eu pinto Γ© meu. Todo coraΓ§Γ£o que eu pinto Γ© meu coraΓ§Γ£o. […]

 

esvaziar o discurso polΓ­tico do medo por meio de proposiΓ§Γ΅es, realizadas ao longo de dois anos, como um exercΓ­cio de observaΓ§Γ£o e escuta do tempo presente … como a internet Γ© a plataforma para redes de controle discursivo e disseminaΓ§Γ£o de Γ³dio, para nΓ³s seria uma plataforma para criaΓ§Γ£o de outros modelos de redes […]

 

Muito se esperou (e ainda se espera) das relaΓ§Γ΅es epistemolΓ³gicas diante dos trabalhos de arte. HΓ‘ uma afetaΓ§Γ£o com a constante necessidade de homologar as suas identidades. Tenta-se deglutir e dominar as obras, agenciΓ‘-las dentro de seu prΓ³prio universo de significados, mas essa atividade predatΓ³ria tem a capacidade de silenciar a sua dicΓ§Γ£o.

 

Penso que pode haver a devolutiva do silΓͺncio. Penso que o enunciado pode vir abarrotado de positivismos e alegaΓ§Γ΅es. A voz do trabalho de arte pode falar o silΓͺncio. […]

 

Tudo que fora negligenciado retorna para a tela como um dilΓΊvio de ruΓ­nas … em meio a conversas banais, … nos deparamos com verdades escondidas, medos do passado e do futuro, imagens do ocorrido e do que estΓ‘ por vir … Nem documental ou ficcional … um cinema do ReciclΓ‘vel … como heranΓ§a dos apagados, aqueles levados pela chuva que sΓ£o tomados pelo isolamento causado pela rotina e tendem a viver todos os dias como o anterior […]

 

Crescemos lendo e ouvindo a versΓ£o eurocΓͺntrica dos colonizadores acerca da nossa histΓ³ria. Mas e as histΓ³rias que nΓ£o sΓ£o contadas nos livros? As histΓ³rias faladas, passadas de geraΓ§Γ£o em geraΓ§Γ£o, contemplam a outra versΓ£o, a versΓ£o de um povo que, muito alΓ©m de ter sido escravizado, tambΓ©m Γ© descendente de rainhas e de reis […]

 

Um corpo que se lanΓ§a no espaΓ§o nΓ£o volta o mesmo que partiu. Deixa para trΓ‘s pedaΓ§os seus e traz consigo pedaΓ§os daqueles lugares por onde ele passou. Cartografar lugares percorridos Γ© tambΓ©m uma forma de entender o caminho, recordar experiΓͺncias, registrar o que aconteceu e enxergar as mudanΓ§as … as trocas que podem acontecer durante um caminho … como um corpo deixa em forma de rastros partes do seu ser … ao mesmo tempo um corpo trancado entre quatro paredes tambΓ©m se movimenta e tambΓ©m deixa marcas nesse espaΓ§o […]

 

tambΓ©m me mantenho consciente de que as percepΓ§Γ΅es de uma caminhada sΓ£o mais do que imagens e sons … No contexto da pandemia de COVID19, a rua estΓ‘ em suspensΓ£o necessΓ‘ria, porΓ©m a cidade turΓ­stica que convive com o fluxo cheio/vazio, alta e baixa temporada, permite uma alternΓ’ncia de ritmos para o morador que habita a cidade. Na cidade vazia, vou me deslocando (quase sempre) entre atividades essenciais e criando os registros … Assim que a prΓ³xima leva de turistas invade a praia, e a ansiedade e o medo me tiram completamente o espaΓ§o da rua, recrio os registros na montagem, juntando peΓ§as de um quebra-cabeΓ§a que se reconfigura sempre […]

 

Ela seria o inΓ­cio de uma histΓ³ria, ou melhor, ela seria o princΓ­pio de toda a histΓ³ria … uma protagonista que Γ© uma metΓ‘fora para a prΓ³pria natureza e a passagem do tempo em si […]

 

Se estou me fazendo confuso, paro um momento para deixar as coisas mais claras. Que outra analogia seria possΓ­vel se nΓ£o a lanΓ§a para a construΓ§Γ£o da imagem do alcance? … Estaria a morte do homem pelo homem mais prΓ³xima dos cΓ©us do que se alimentar dessa carne de escuridΓ£o? Quantos homens se perderam no excesso e por ele foram caΓ§ados? Seria essa encenaΓ§Γ£o uma caΓ§ada da escuridΓ£o aos homens? Aqui os cΓ£es caΓ§am o escuro para os homens. Me sinto vΓ­tima. Te pergunto … hΓ‘ CaΓ§ada? O que ela Γ©? NΓ£o a alcanΓ§o […]

 

No momento em que um corpo passa a existir no mundo, ele se torna suscetΓ­vel Γ s influΓͺncias externas … Ao longo da vida, palavras se acumulam e se entranham na mente, sussurram e distorcem a percepΓ§Γ£o sobre quem somos. Passamos a rejeitar o que nos torna singulares para tentar corresponder a uma imagem que nΓ£o Γ© real, pautada em uma visΓ£o completamente distorcida sobre nΓ³s mesmos … Γ‰ necessΓ‘rio entender como os acontecimentos externos nos afetam e modificam a nossa maneira de nos observar … Γ‰ algo doloroso, rompe com tudo … mas abre espaΓ§o para um novo caminho […]

 

A repetiΓ§Γ£o de uma imagem impressa em cima da outra equivale ao ruΓ­do ao desdobrar-se entre distorΓ§Γ΅es e reverberaΓ§Γ΅es. SΓ£o ruΓ­dos desorganizados postos no papel repetidamente … imagens de mulheres musicistas, memes da internet, pinturas, e imagens de serpentes [….]

 

utilizo um batom vermelho para escrever a palavra β€œsolidΓ£o” em meu prΓ³prio rosto. Considero o gesto de escrever como falho e fracassado, a comeΓ§ar pelos materiais de escrita inusitados: o batom velho e gasto, que forma letras tΓ£o grossas que quase nΓ£o aparecem juntas em um mesmo Γ’ngulo; e a pele de meu prΓ³prio rosto, que, usada como superfΓ­cie de inscriΓ§Γ£o, vai sendo levemente distorcida pela pressΓ£o do objeto … A solidΓ£o estΓ‘ presente … Ela nos assombra quando precisamos reprimir quem somos … e tambΓ©m quando nos sentimos constantemente deslocados e sem alguΓ©m que compreenda nossas dores [….]

 

um trabalho repetitivo, inΓΊtil e sem finalidade como uma forma de castigo ainda pior que a morte … condenado Γ  pedra, a fazer subir a rocha que nunca cessarΓ‘ de rolar ladeira abaixo … como o gesto infinito de fazer vir Γ  imagem aquilo que a motiva internamente … atΓ© esse momento, eternamente subindo a pedra morro acima e vendo-a rolar morro abaixo.

 


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1-TEXTO-COLAGEM com fragmentos de 2020 e 2021, autoria de AD Costa, Adriana CorrΓͺa, Amanda Campos, Bruna Morais, Clara Mayall, Flavia Tebaldi, Francisco HonΓ³rio, Gabriel Caires, Gabriela Borges, Helena Motta, Judy Velasquez, Lucas Lino, Lucas Sousa, Monique Durand, Racquel Fontenele, Sema, Sofia Skmma ( ediΓ§Γ£o Maria Moreira ).
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OrganizaΓ§Γ£o Geral: Maria Moreira

OrganizaΓ§Γ£o Colaborativa ConclusΓ£o PAE DLA 2020.2:
Maria Moreira, Regina de Paula, Alexandre Vogler

OrganizaΓ§Γ£o de MediaΓ§Γ£o DEACP: Isabel Carneiro
Departamento de Linguagens ArtΓ­sticas
Chefia: Tony Queiroga
Subchefia: Marcelo Lins

Instituto de Artes da UERJ
Direção: Alexandre SÑ 

Vice-DireΓ§Γ£o: Aldo Victorio
Site: Henrique Barone